sábado, 29 de abril de 2017

Roda de Conversa


Hoje, às 16h no pátio do Centur, a Coletiva Feminista Radical Matinta promoverá uma roda de conversa que terá como objetivo dialogar sobre questões relativas à opressão sexual sofrida pelas pessoas do sexo feminino. Convidamos as mulheres de Belém para participar.

Endereço: Av. Gentil Bitencourt, 650 - Batista Campos, Belém.






terça-feira, 4 de abril de 2017

CHIMAMANDA E A SELETIVIDADE DO MOVIMENTO LGBT

Recentemente, a escritora e ativista Chimamanda Ngozi Adichie fez uma fala sobre gênero que gerou polêmica entre os mais diversos grupos sociais. Em uma parte do texto, Adichie afirmou que a socialização de pessoas do sexo masculino que transicionaram e de pessoas que já nasceram com o sexo feminino eram diferentes e que, por isso, suas experiências ao longo da vida seriam distintas. Esta fala foi o suficiente para que uma mulher negra, feminista e ativista do movimento LGBT fosse ferrenhamente atacada pelo próprio movimento que defende. Os transativistas afirmaram que seu discurso percorria os rumos da transfobia, pois em sua fala ela sugeria quem seriam as mulheres de verdade 

Em resposta publicada no The Guardian News1Chimamanda disse que não tinha nada pelo que se desculpar e que hostilidade da reação só serve para "fechar o debate", afirmando que não há como dialogar, uma vez que ela se recusa a usar a linguagem ortodoxa que o movimento exige para manter o debate. Adichie falou ainda: "Se não podemos ter conversas, não podemos ter progresso". 
Nesse ponto Chimamanda referia-se à problemática da ortodoxia da linguagem frequentemente utilizada pelo feminismo acadêmico e na esquerda política norte-americana. Sua postura diante disso é um posicionamento político de alguém que se recusa a ser cooptada por essa linguagem e que em seus livros insiste nessa resistência. Reitera que já refletira sobre esta forma de linguagem e mantém a crítica: "(...) eu não acho que seja útil insistir que, a menos que você queira usar a linguagem exata que eu quero que você use, eu não vou ouvir o que você está dizendo”. 
Os ataques que a escritora vem sofrendo demonstram o quanto nós mulheres estamos suscetíveis à violência quando ousamos pronunciar uma ideia contra hegemônica, que só servimos para falar de feminismo publicamente até o momento em que concordamos com os ideais neoliberais de que homens sofrem a mesma opressão (ou mais) que fêmeas humanas. Ainda que saibamos o quanto isso não é real. 
Não é somente uma questão de linguagem. Para Chimamanda, o mais óbvio é isto, visto que mesmo ela considerando em momentos de sua fala que mulheres trans são mulheres” (ponto no qual vamos concordar em discordar dela) e que defende seus direitos, recusa-se a usar a palavra “cis” e afirma que se a tivesse usado não teria sofrido o mesmo rechaço pelo movimento. O que acontece é que ela discorda que pessoas do sexo masculino que se auto identificam como mulheres tenham sofrido a mesma opressão durante sua socialização do que nós mulheres – nascidas com aparelho reprodutor feminino e socializadas como mulheres. Sendo assim, há aí um problema de linguagem sim, mas também algo muito mais complexo, um problema político. 
No momento em que a escritora, e todas nós que assumimos um discurso contra hegemônico, somos colocadas em cheque, nos é tirado nosso direito fundamental dentro de qualquer movimento político: a autonomia política. A mulher precisa ter o direito de decidir como e por quem vai lutar. Quando se trata de uma mulher negra, que teve durante toda a sua vida seus direitos negados e luta muito para conquistá-los, isso não se trata mais só de um preconceito linguístico, se trata de misoginia e racismo. 
Não por acaso, Adichie afirmou que se afastou do feminismo acadêmico. Sendo ele elitista, ortodoxo e racista, ela segue uma militância autônoma, quase que alternativa, um direito que é dela, mas que tem sido questionado devido ao seu desconforto com questões próprias do movimento LGBT, no geral vinculadas àqueles que se encontram sob a sigla T. 
Como uma coletiva feminista radical não podemos deixar de mencionar que o feminismo radical não teve seu início e desenvolvimento dentro dos muros da academia – lugar onde até hoje não é aceito. Sua origem veio da prática e vivência de mulheres, majoritariamente lésbicas. Algo distante da realidade acadêmica e muito mais próximo da realidade material. Por isso, somos capazes de entender e respeitar a postura da Chimamanda 
Quando Chimamanda se declara resistente a esse modelo de feminismo acadêmico, ela se vê próxima da realidade que a cerca e encontra nela mais sentido para seguir sua luta feminista. Em sua resposta, ela afirma ter o cuidado para evitar o jargão do feminismo acadêmico: "Eu realmente não participo desse tipo de ortodoxia da linguagem e há uma parte de mim que realmente resiste a isso. Então eu resisto a ser cooptada por ele". 
Por fim, frente ao exposto e a todos os ataques que a escritora vem sofrendo, torna-se cada vez mais evidente a aceitação e representação seletiva do movimento LGBT e como ele compromete a autonomia política de mulheres que se opõem a ele. Se o desconforto, incomodo e a opinião mulheres não são ouvidos dentro do movimento LGBT, então ele não é para mulheres.  
Nesse momento, evidencia-se a necessidade de resgatar o princípio básico que nos uniu em torno de um movimento só para mulheres: a autodeterminação. Em um mundo patriarcal, capitalista e racista, uma mulher negra ativista é o que há de mais revolucionário e contra hegemônico. O feminismo é o movimento onde essas mulheres são ouvidas (ou pelo menos deveria ser), onde elas podem falar sobre suas realidades, seus corpos, suas lutas. É no feminismo radical que lembramos que nosso objetivo é a emancipação feminina e que não é nossa responsabilidade o sofrimento que homens causam uns aos outros.


(Foto : Reprodução)

Segue a baixo o link da entrevista que foi livremente traduzida neste texto:

sábado, 1 de abril de 2017

FOTOS DO II ENCONTRO DAS MULHERES DO DIREITO

Nos dias 20 e 21 de março, a Coletiva Feminista Radical Matinta  foi convidada a participar do II ENCONTRO DE MULHERES DO DIREITO, que ocorreu na Universidade Federal do Pará (UFPA).  Neste evento, a coletiva ministrou o minicurso "Feminismo Radical: Teoria e prática" e também esteve representada na mesa intitulada "Mulheres nos movimentos sociais" pela sua membra Tamyris Monteiro, que também contou com a participação Amanda Pimentel (Levante Popular da Juventude e DCE/UFPA), Analu Batista dos Santos (representante do Movimento Quilombola), Concimar Sompre (representante do Movimento Indígena) e Tatiana Oliveira (integrante do Movimento estudantil). 
O material utilizado no minicurso está disponível no link do Google Drive abaixo.  O material pode ser utilizado como base de estudo para outras produções que também busquem difundir o feminismo radical por todo o país.

https://drive.google.com/open?id=0BzYFnA601eOGRUd5Wm54anpRMTA