segunda-feira, 25 de julho de 2022

Zine - Direitos da mulher na gravidez, parto e puerpério

    Nas últimas semanas, fomos bombardeadas por casos de abuso sexual dentro de uma sala de parto. Foram vários cometidos por um único médico anestesista. Associar essa informação com a foto de uma turma de formandos do curso de Medicina que viralizaram, há poucos anos, pousando com calças abaixadas, fazendo alusão a assédio e abuso sexual de suas futuras pacientes (?), é estarrecedor. 

    É doloroso imaginar quantas mulheres já sofreram esse tipo de violência dentro de um consultório médico, e, se o os profissionais que estão entrando no mercado agora consideram inofensivo fazer publicamente uma "piada de estupro" contra quem deveriam direcionar somente cuidados, fica evidente que as universidades estão falhando em treinar seus alunos para agirem com respeito e humanidade com as mulheres, e o pior, não parece haver movimento de mudança nesses ambientes. Nossas dores são subestimadas, nosso sofrimento e desconforto são considerados normais. 

    O caso do estuprador anestesista é só mais um entre milhares e milhares de casos de violência obstétrica e  sexual em hospitais, e por acreditar devemos estar prontas para lutar pelo direito a uma existência digna que nós, integrantes da Coletiva Feminista Radical Matinta,  no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana compartilhamos com grande satisfação nosso primeiro Zine.

Capa do Zine "Direitos da mulher na gravidez, parto e puerpério"


    Acreditamos que a informação é um arma valiosa para emancipação da classe sexual feminina, portanto fizemos um compilado de leis que referem-se aos Direitos da mulher na gravidez, parto e puerpério, de forma simples e direta, associado a projetos tocados pela Coletiva como a Super Clitóris e o Mães na Rede. 

    A distribuição deste zine é gratuíta e você pode acessar o e-book para download aqui. Caso você queira imprimir e distribuir em sua comunidade, em breve a coletiva irá disponibilizar um modelo pensado para impressão em apenas quatro papéis A4 em formato paisagem e um tutorial de como montá-lo, fique de olho nas nossas redes sociais! Sendo assim, gostariamos de frisar que a venda deste fanzine só é permitida se for para arcar com os custos da produção. 


Saudações amazônicas!


Matintas.

sábado, 29 de agosto de 2020

29 de agosto: Dia da visibilidade lésbica.


 Em 29 de agosto de 1996 foi realizado no Rio de Janeiro o 1º Seminário Nacional de Lésbicas- Senale, e em alusão a esse evento, estabeleceu-se por ativistas lésbicas brasileiras  o dia 29 de agosto como o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.


Nesse dia é importante destacar os inúmeros apagamentos e violências institucionalizadas inflingidas às mulheres lésbicas que enfrentam tanto o machismo quanto a misoginia.

No Brasil não existem políticas públicas para prevenção das IST's e à AIDS em mulheres lésbicas que, em decorrência disso, passam a vida inteira negligenciando a sua própria saúde, devido às inúmeras situações constrangedoras ocasionadas por profissionais que não foram capacitados no âmbito acadêmico e nem pelas instituições onde trabalham para lidarem com as vivências lésbicas.


Em 2018 foi publicado o Dossiê Sobre Lesbocídio no Brasil: de 2014 até 2017*, considerado um marco para a criação de um banco de dados com o objetivo de dar visibilidade a memória lésbica, o dossiê apresenta informações consistentes sobre lésbicas assassinadas e que cometeram suicídio,  apresentando assim, informações pertinentes que servem de base para o Estado instituir políticas públicas que protejam as vidas lésbicas. 


Meninas ao se descobrirem lésbicas experienciam o silenciamento da sua orientação sexual desde muito cedo no âmbito familiar, quando pessoas do convívio começam a reprimir indícios que se distanciam do padrão heteronormativo; e como subterfúgio, a menina lésbica pode começar a performar a feminilidade que lhe foi imposta desde antes do seu nascimento, passando a vida inteira em tentativas infelizes de relacionamento ideal norteado pelas diretrizes da sociedade patriarcal. Serão questionadas sobre a legitimidade de sua orientação afetiva/sexual, incitadas a entrarem em dúvida sobre suas próprias existências. As lésbicas não-feminilizadas são questionadas se gostariam de ser homens ou se não seriam homens trans, tendo assim a sua sexualidade violentada pela busca incessante da sociedade em adequá-las à  heteronormatividade.

E é por isso que o dia de hoje é necessário e deve ser lembrado e celebrado, como um movimento de resistência e de luta, em memória das lésbicas que já morreram e de todas nós que de algum modo enfrentamos invisibilidades nesse momento. 


*Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil: de 2014 até 2017/ Milena Cristina Carneiro Peres, Suane Felippe Soares, Maria Clara Dias. - Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2018.


#matintas #visibilidadelesbica #orgulholesbico #feminismo #feminismoradical

quarta-feira, 6 de março de 2019

8 de março: Como a política do armamento afeta a vida das mulheres?

Oi mulheres,

Estamos a todo vapor organizando a nossa ação do 8M. Esse ano decidimos fazer uma ação de panfletagem sobre os impactos da política de armamento no feminicídio. O objetivo é conversar com as mulheres de maneira a provocar a reflexão sobre como a política atual do governo federal a respeito da posse de armas terá um impacto direto na vida das mulheres.
A Coletiva Feminista Radical Matinta disponibilizou ao longo das ultimas  semanas vários materiais e links informativos sobre o tema nas redes sociais, para que todas possam se apropriar desse debate, conhecendo os argumentos a fundo.
A Coletiva Feminista Radical Matinta também  está disponibilizando o panfleto online para ser livremente impresso e utilizado por outras mulheres ou organizações que queiram tocar ações sobre o mesmo tema.

Link


No dia 8 de março, a Coletiva Feminista Radical Matinta realizará uma ação de panfletagem na cidade de Belém, nos locais e horários indicados abaixo. Além disso, teremos pontos de panfletagem nas cidades de São Miguel do Guamá e de Marapanim, no interior do estado do Pará, e nas cidades de Recife e João Pessoa, numa parceria com o Coletivo Raiz Mulheres das Águas que atua no Nordeste.

Se você tem interesse em se juntar a essa ação no dia 8 de março, seguem os pontos de panfletagem:

Belém:
Local: Ver-o-peso
Horário: 9h

Local: Praça da República
Horário: 17h

São Miguel do Guamá
Local: Bairro Vila França
Horário: 9h


Marapanim
Local: Barracão da Associação, Vila Camara
Horário: 9h

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Calendário Feminista 2019

É com imenso prazer que no ano de 2019 apresentamos nosso calendário estrelado pela Super Clitóris, nossa heroína do coração!

O calendário contém datas e informações importantes de serem lembradas nesse ano. Esperamos também que, além de embelezar suas mesas e escrivaninhas, esse calendário sirva como um lembrete diário de que a luta feminista continua e precisa, mais do que nunca, ser organizada coletivamente com engajamento e responsabilidade. 

Que o ano de 2019 seja um ano de fortalecimento do nosso movimento e que, mais do que efemérides, possamos celebrar a construção cotidiana da resistência feminista brasileira. 

Saudações feministas radicais.

Ass.: Matintas




BAIXE O ARQUIVO AQUI

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Impressões de uma Mapuche sobre a descriminalização do aborto


Fonte: lmneuquen.com

Hoje é um dia histórico para o movimento das mulheres, que juntas contribuímos com a nossa semente para a defesa do nosso direito de decidir sobre nossos corpos. Hoje entrará em debate a descriminalização do aborto. Ontem, um jornalista me perguntou: qual opinião das mulheres indígenas sobre essa questão? Fiquei surpresa que alguém neste país se importe com pensa o setor das mulheres mais empobrecidas, coagidas e violadas. Nós mulheres indígenas não somos hegemônicas frente a muitas questões que nos afetam, entre elas: o aborto.

Então compartilharei a minha opinião, como mulher indígena, mapuche, mãe de gêmeos, mãe solo, mãe proletária. Nasci e cresci em uma sociedade sexista e racista. Expressões como "A única coisa que as índias sabem é parir", "Pra que se enchem de filhos, se não podem criá-los?”, "Índias são como animais que abrem as pernas e não pensam" "são pobres porque têm muitos filhos". Coincidentemente, muitas dessas expressões, também atribuídas às mulheres pobres não indígenas, são ditas por homens e mulheres que hoje se definem como PRÓ-VIDA.  Esses mesmos senhores e senhoras, que levantam o dedo para as mulheres que são a favor da descriminalização do aborto e que defendem a defesa da vida como princípio sagrado subjacente à sua posição. Esses mesmos senhores e senhoras são aqueles que não se importam com a vida dos nossos povos e territórios, se mostram apáticos contra a violência aos nossos corpos, aplaudem a forma com que arrancam nossos filhos e filhas e matam-os pela fome, pelo gatilho fácil, o racismo genocida, hoje são justamente os que clamam pela moral e nos falam do direito à vida, os mentores da morte. A hipocrisia histórica da aristocracia fascista. 

Neste país, já vi meninas indígenas se prostituirem pelo pão, já ouvi a dolorosa história de uma menina mapuche estuprada pelo seu tio, que ficou grávida e foi forçada a dar à luz com apenas 11 anos, após o nascimento ela matou seu filho afogado, porque ele representava somente a dor, a injustiça e a raiva. Por tanta impotência, essa menina foi condenada pelo aparato legal que desprezou os seus direitos, mas que pretendia que ela assumisse "suas obrigações maternas", logo o Estado que não assumiu suas obrigações, para garantir uma vida plena àquela garota que nunca deveria ter sido mãe. O jornalista me pediu números, estatísticas que validem nossa denúncia sobre os assustadores feminicídios indígenas que vêm acontecendo. Não existem estatísticas oficiais, não existem estatísticas institucionais de ONGs, essas estatísticas não existem, porque para o Estado e governo nós nunca fomos lembradas, não há estatísticas porque a vida indígena é desvalorizada. Não houve marchas por nossas mortas, nem sequer conseguiram alcançar a dolorosa reivindicação de seus entes queridos às instâncias judiciais. Nossas mortas em sua maioria sequer falam espanhol, muitas delas estão em zonas rurais. Morremos por repressão, morremos presas injustamente, morremos nas mãos de pistoleiros contratados pelas multinacionais e por latifundiários, morremos em abortos ilegais, sim, é um punhal que atravessa a todas, destroçando a alma coletiva das mulheres do mundo. 

No entanto, devo confessar que temo a "legalidade" desse estado e desse sistema, tudo o que é legal se torna uma maneira aprovada e controlada de fazer bons negócios para a Corporocracia. Eu escolho a descriminalização, mas precisarei de um tempo para pensar na legalização. Como mulher mapuche, povo que sobrevive, apesar de tudo, à tentativa de extermínio dos estados, eu escolho a maternidade, mas a quero viver plenamente, e para isso cobro apenas três direitos e nada mais: Autonomia sobre meu corpo, a demarcação dos territórios, autonomia do meu povo.

Esses três direitos em conjunto nos garantirão educação integral para decidir, contraceptivos para não abortar e aborto descriminalizado para não morrer. Podemos recuperar o uso de métodos naturais ancestrais para evitar a invasão e a contaminação dos nossos corpos pelas substâncias químicas, como o uso do Misoprostol, e muitos outros artifícios que a indústria química e farmacêutica quer impor com sua "legalidade" para fortalecer ainda mais o capitalismo voraz. Esse é o primeiro passo para a descriminalização, vamos construir juntas um espaço para o debate sobre como imaginamos ou propomos a legalização. Irmãs das 36 nações indígenas da Argentina, somemos nossa voz, compartilhemos nossos conhecimentos, abramos o debate, mas não silenciemos ou neguemos a realidade de morte existente em cada comunidade pelos abortos clandestinos, que arrancam as vidas das nossas milhares de jovens. Saúdo e abraço a todas as mulheres que fizeram com que este movimento instituinte chegasse como um grito estrondoso ao congresso. Da cordilheira do sul pela livre autonomia dos corpos, territórios e dos povos!

Marici weu!

Moira Millán, weychafe mapuche , puelmapu.
13 de junho de 2018.

Acesse a publicação original aqui

segunda-feira, 28 de maio de 2018

10 curiosidades sobre a Legalização do Aborto no mundo



1) O Reino Unido foi o primeiro da lista a legalizar, em 1969. No debate anterior à legalização, argumentou-se que era necessário porque os contraceptivos poderiam falhar, algo que 50 anos depois ainda precisa ser explicado a muitos argentinos.

2) Na Dinamarca, se a mulher que requer o aborto não fala dinamarquês, você pode pedir um intérprete (grátis) para consultas médicas.

3) História da Noruega: em 2012, o Hospital Universitário de Oslo negou um aborto a uma imigrante africana que não podia pagar por ele (semana 9, ele tinha que ser hospitaleiro ). O centro de imigrantes que a acompanhava encaminhou para outro hospital onde o fizeram, mas também se queixaram ao Hospital Universitário de Oslo, que pediu desculpas e estabeleceu um protocolo para lidar com casos semelhantes. Isso é ser pró-vida.

4) Na Finlândia, eles são muito cuidadosos e apoiam seus sistemas de saúde pública e educação. Quase todos os abortos são feitos no sistema público de saúde, a prática privada de abortos é ilegal, exceto pelo risco de saúde da gestante.

5) Na Suécia, antes da lei que legalizou o aborto em 1974, muitas mulheres suecas viajaram para a Polônia (então comunista, o aborto era legal) para realizarem abortos, ao invés de passar pelos trâmites exigidos no seu país. Essa realidade foi um fator decisivo para a expansão da lei sueca. Hoje, na Polônia, a lei foi revertida (sob a influência de conservadores) e as mulheres polonesas fazem abortos em outros países, incluindo a Suécia.

6) Na França, a maioria da população é católica. Se algum médico se recusar a realizar um aborto, eles devem encaminhar a mulher para outro médico. Embora seja um procedimento muito comum (cerca de 1 em cada 3 mulheres fazem um aborto em algum momento de suas vidas), muitas mulheres sofrem violência obstétrica e julgamentos morais dos profissionais que cuidam delas.

7) A Alemanha é o único país da lista em que o aborto não é gratuito, mas é coberto se a mulher não tiver recursos para pagá-lo.

8) Na Itália, embora o aborto seja legal, pode ser difícil de acessar esse direito porque há muitos médicos católicos que se recusam a fazê-lo, e em áreas rurais e peri-urbanas, o acesso é ainda mais difícil.

9) Na Espanha existe uma grande divisão esquerda / direita em relação ao aborto. Houve várias tentativas de reverter a lei de 2010, promovida pelo Partido Popular.

10) No Uruguai, desde a legalização, não houve mortes de mulheres devido a abortos clandestinos.


Acesse a publicação original aqui

segunda-feira, 14 de maio de 2018

SUPER CLITÓRIS: Direta ao Ponto






A misoginia é a narrativa de ódio, fincada em valores patriarcais, responsável por marcar o corpo feminino e colonizá-lo. Nós – as Matintas – reconhecemos a necessidade de construir contranarrativas à exploração dos nossos corpos e trilhar em busca da nossa autonomia. A Super Clitóris foi concebida como uma entidade capaz de nos conectar com as nossas vivências e sabedorias. Propomos uma comunicação horizontal, instigadora e reflexiva, como a educação deve ser. Nosso botão de partida é o Clitóris: historicamente odiado, mas que tem muitas mensagens a serem ditas. 
O Clitóris já foi nomeado como “o bico do seio do diabo” no período da Inquisição, segundo os historiadores. Durante o Egito Antigo, o clitóris e os lábios vaginais foram extirpados como medida para impedir a infidelidade das mulheres. A clitoridectomia, ritual de mutilação do clitóris e da parte externa dos órgãos genitais femininos, é uma tradição criada há mais de dois mil anos em alguns países da África, do Oriente Médio e do Sudeste Asiático, onde crianças são submetidas aos procedimentos cirúrgicos com o objetivo de proibir o prazer feminino, o que ainda pode ocasionar infertilidade.
Diante de tanto ódio, o que a Super Clitóris tem a nos dizer?
É só acompanhá-la, apostamos que a jornada pelo autoconhecimento será prazerosa!



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